Monthly Archives

setembro 2023

Polifarmácia na População Idosa: impacto na saúde e estratégias de manejo

By Notícias No Comments

Polifarmácia na População Idosa: impacto na saúde e estratégias de manejo

“A polifarmácia é altamente prevalente na pessoa idosa, tendo em vista os diversos fatores de risco apresentados por essa população e traz efeitos adversos decorrentes do uso inadequado ou da interação medicamentosa, muitas vezes presentes nas medicações de consumo regular.”

 

Foto retirada do Freepik

O QUE É POLIFARMÁCIA?

A polifarmácia segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) envolve a utilização simultânea e regular de quatro ou mais medicamentos, seja com ou sem prescrição médica, por parte de um paciente. Outras literaturas sugerem que a polifarmácia é o uso regular de 5 ou mais medicamentos (MORAES et al., 2018).

Apesar destas divergências no conceito da polifarmácia, o foco principal em discussão aqui são os efeitos que o uso concomitante de diversos medicamentos pode causar, principalmente na população idosa que muito comumente é afetada por policomorbidades. Em um estudo realizado para avaliação da polifarmácia em idosos institucionalizados concluiu-se que o número de diagnósticos era diretamente proporcional ao número de medicamentos regulares, ou seja, quanto mais comorbidades o idoso apresentava maior o número de medicamentos que tomava diariamente (LUCCHETTI et al., 2010).

RISCOS E EFEITOS

Além disso, cabe elencar que há uma alta prevalência de polifarmácia em idosos em atendimento domiciliar. Um estudo realizado em Montes Claros-MG avaliou cerca de 130 idosos cadastrados em um programa de Atendimento Domiciliar identificou que 52,7% da amostra havia a presença da polifarmácia, concluindo que é necessário que os profissionais deste setor estejam atentos ao número de fármacos prescritos, pois estes geram impactos no custo, na adesão ao tratamento proposto e desencadeiam aumento das taxas de internação (SANTANA et al., 2017).

Outro estudo aborda o porquê dos idosos estarem em maior risco de sofrer com os  efeitos adversos com o uso regular de polimedicamentos, sendo apontadas alterações farmacocinéticas, como diminuição do funcionamento de órgãos, diminuição da massa muscular e aumento da massa gorda; alterações farmacodinâmicas, como o aumento da sensibilidade aos medicamentos e alteração dos mecanismos homeostáticos; alterações na capacidade funcional, como os déficits visuais, auditivos, artrites, diminuição do tônus muscular e equilíbrio; alterações na capacidade cognitiva, como a dificuldade em recordar novas instruções, problemas de memória ou de compreensão; além das multipatologias, que como mencionado anteriormente aumentam a possibilidade de interações medicamentosas nos idosos (WHEBERTH, 2011).

Um estudo realizado com um grupo de idosos institucionalizados elencou os efeitos dos principais fármacos inadequados em uso pelos pacientes avaliados, apresentando os seguintes efeitos adversos: risco de hipotensão e constipação; bradicardia e exacerbação da depressão; prolongamento do efeito sedativo de alguns medicamentos levam ao aumento do risco de quedas e fraturas; problemas de intervalo QT (parte da função elétrica cardíaca) e risco de provocar torsades de pointes (subtipo de taquicardia ventricular polimórfica); confusão mental; hipoglicemia prolongada e síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético; além de boca seca e problemas urinários (CORRER et al., 2007).

COMO LIDAR COM A POLIFARMÁCIA?

Tendo em vista todos os problemas da polifarmácia supracitados, é importante trabalhar com estratégias de manejo para essas situações. Recomenda-se atualmente a despescrição, que consiste no processo de identificação e descontinuação de medicamentos desnecessários, inefetivos, inseguros ou potencialmente inadequados que deve ser feito pelo profissional em concordância com o paciente. A desprescrição deve levar em consideração fatores como: benefícios x danos dos medicamentos; adesão do paciente; objetivos do tratamento; expectativa de vida; comorbidades; e preferência do paciente (FERREIRA; FERREIRA; NETO, 2021).

Conclui-se, portanto, que a polifarmácia é altamente prevalente na pessoa idosa, tendo em vista os diversos fatores de risco apresentados por essa população e traz efeitos adversos decorrentes do uso inadequado ou da interação medicamentosa, muitas vezes presentes nas medicações de consumo regular.  Ademais, cabe aos profissionais da saúde como médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros, realizar constantemente reavaliações dos pacientes idosos e das prescrições dos mesmos a fim de proceder com o processo de desprecrição nos casos de polifarmácia.

Escrito por: Laís Ferreira Felício – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

REFERÊNCIAS

CORRER, Cassyano Januário et al. Riscos de problemas relacionados com medicamentos em pacientes de uma instituição geriátrica. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, Paraná, v. 43, ed. 1, p. 55-62, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcf/a/NYC66dLmTbVSqF7BnK4dptD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2023.

FERREIRA, Lucas Martins; FERREIRA, Mariana Pires; NETO, Vicente Spinola Dias. Description applied to polypharmacy. Brazilian Journal of Health Review, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 10464-10474, 13 maio. 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/download/29718/23441/76221. Acesso em: 21 ago. 2023.

LUCCHETTI, Giancarlo et al. Fatores associados à polifarmácia em idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, [S.L.], v. 13, n. 1, p. 51-58, abr. 2010. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1809-98232010000100006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/DKympMdXr3Sw6qmNJGHgM5x/. Acesso em: 17 ago. 2023.

MORAES, Edgar Nunes de et al. Avaliação Multidimensional do Idoso. Curitiba: [s. n.], 2018. ISBN 978-85-66800-14-2. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-04/avaliacaomultiddoidoso_2018_atualiz.pdf. Acesso em: 19 ago. 2023.

SANTANA, Edileuza Teixeira et al. Prevalência de Polifarmácia em Pacientes Assistidos por um Programa de Atenção Domiciliar. In FEPEG 2018. Montes Claros, MG. Anais (on-line). Montes Claros: Unimontes, 2017. Disponível em: http://www.fepeg2018.unimontes.br/anais/ver/688085bd-bb20-4889-a32e-a69300b5a931. Acesso em: 23 ago. 2023.

WHEBERTH, Ana Paula Vilas Boas. Polifarmácia em Idosos. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família) – Universidade Federal de Minas Gerais, [S. l.], 2011. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9CGFTZ/1/monografia_ana_paula_vilas_boas_wheberth.pdf. Acesso em: 21 ago. 2023.

A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO ÀS NECESSIDADES PSICOESPIRITUAIS DOS PACIENTES EM HOME CARE

By Home Care, Inovação, Saúde mental No Comments

Wanda Horta (1979), uma importante enfermeira brasileira, propôs a teoria das Necessidades Humanas Básicas onde afirmou que os seres humanos constituem-se de 3 dimensões: psicobiológica, psicossocial e psicoespiritual. Essas necessidades são interdependentes e precisam ser atendidas quando pensamos em saúde e bem-estar de um paciente. Nesse viés, a enfermagem assume um papel central visto que tem como princípio assistir os indivíduos no atendimento de suas necessidades e no alcance do seu estado de equilíbrio (ANDRADE et al.,2022; BARBOSA et al.,2020).

Outrossim, a necessidade psicoespiritual engloba vertentes da espiritualidade, religiosidade, filosofia e ética de vida dos seres humanos. Percebe-se que os indivíduos estão constantemente tentando interpretar suas vivências através de conceitos que ultrapassam as explicações científicas desse mundo. No entanto, diante de um modelo de saúde predominantemente biomédico e hospitalocêntrico, essa dimensão do cuidado é deixada de lado e as questões físicas e biológicas assumem protagonismo durante a assistência de saúde (LEITE et al.,2022). Em situações de cuidados domiciliares, sua necessidade espiritual é ainda mais negligenciada e o impacto negativo disso na saúde do mesmo e de sua recuperação é de extrema relevância.

É válido ressaltar que, quando atendidas as necessidades espirituais do indivíduo, existem significativos ganhos diretamente e indiretamente para a saúde (LEITE et al.,2022). Uma pessoa que é tolhida de exercer suas atividades espirituais e de firmar sua fé, acabam tendo desequilíbrio em todos os outros aspectos de sua saúde. Isso acontece pelo simples fato de que os seres humanos são seres holísticos, ou seja, formados por múltiplas partes que são interdependentes e que não podem ser reprimidas ou desvinculadas. Tendo em vista essa emblemática, cabe aos cuidadores e profissionais a articulação de ações que visam o alcance dessa dimensão pelos enfermos.

A literatura cita inúmeros benefícios da espiritualidade, que é inerente ao ser, na vida do enfermo e seus familiares. Dentre elas destaca-se a manutenção da integridade de corpo, mente e espírito; Coragem e esperança para enfrentar o momento de desequilíbrio; Favorece a aceitação da realidade, da autoconfiança e aumenta a resiliência do ser; Favorece o crescimento espiritual e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento, dentre outros benefícios (LEITE et al., 20222). Em outras palavras, para que uma manifestação biológica seja solucionada, o ser humano precisa estar bem espiritualmente, uma mente que não acredita na possibilidade de cura retarda significativamente que a mesma ocorra em todos os níveis biológicos possíveis de seu corpo.

Sendo assim, o que fica evidenciado na literatura é que os profissionais de saúde e os familiares dos pacientes precisam estar atentos às suas necessidades espirituais. O ser humano precisa crer em algo e acreditar em um momento de cura para que o mesmo possa ter forças para lutar e aumentar sua capacidade de resiliência. Nesse sentido, é preciso romper com o modelo de saúde predominante hodiernamente e reduzir a negligência que é imposta a necessidade psicoespiritual dos indivíduos. A partir dessa ideia, é necessário entender que o ser é integral e que somente o balanço de seu aspecto físico não é o suficiente para levá-lo ao seu estado de equilíbrio, ou seja, de saúde.

 

 

Escrito por: João Victor da Silva Santos – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

 

 

REFERÊNCIAS:

Leite ACAB, Alvarenga WA, Neris RR, Marques-Mangolin EA, Lucca M, Nascimento LC. Espiritualidade como fator interveniente na gestão de enfermagem. In: Associação Brasileira de Enfermagem; Felli VEA, Peruzzo SA, Alvarenga JPO, organizadores. PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Gestão: Ciclo 11. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2022. p. 77–100. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4). https://doi.org/10.5935/978-65-5848-656-5.C0004

TOLEDO, L.V.; CAÇADOR, B.S.; ANDRADE, J.V.; SOUZA, J. Abordagem das necessidades psicoespirituais pela enfermagem em tempos pandêmicos: revisão integrativa. Pesquisas e procedimentos de enfermagem: assistência, gestão e políticas públicas, Editora Ampla, 585 p, Abril, 2022. Disponível em:

<https://www.researchgate.net/publication/360271100_Abordagem_das_necessidades_psicoespirituais_pela_enfermagem_em_tempos_pandemicos_revisao_integrativa.

https://www.researchgate.net/publication/360271100_Abordagem_das_necessidades_psicoespirituais_pela_enfermagem_em_tempos_pandemicos_revisao_integrativa.>