Wanda Horta (1979), uma importante enfermeira brasileira, propôs a teoria das Necessidades Humanas Básicas onde afirmou que os seres humanos constituem-se de 3 dimensões: psicobiológica, psicossocial e psicoespiritual. Essas necessidades são interdependentes e precisam ser atendidas quando pensamos em saúde e bem-estar de um paciente. Nesse viés, a enfermagem assume um papel central visto que tem como princípio assistir os indivíduos no atendimento de suas necessidades e no alcance do seu estado de equilíbrio (ANDRADE et al.,2022; BARBOSA et al.,2020).
Outrossim, a necessidade psicoespiritual engloba vertentes da espiritualidade, religiosidade, filosofia e ética de vida dos seres humanos. Percebe-se que os indivíduos estão constantemente tentando interpretar suas vivências através de conceitos que ultrapassam as explicações científicas desse mundo. No entanto, diante de um modelo de saúde predominantemente biomédico e hospitalocêntrico, essa dimensão do cuidado é deixada de lado e as questões físicas e biológicas assumem protagonismo durante a assistência de saúde (LEITE et al.,2022). Em situações de cuidados domiciliares, sua necessidade espiritual é ainda mais negligenciada e o impacto negativo disso na saúde do mesmo e de sua recuperação é de extrema relevância.
É válido ressaltar que, quando atendidas as necessidades espirituais do indivíduo, existem significativos ganhos diretamente e indiretamente para a saúde (LEITE et al.,2022). Uma pessoa que é tolhida de exercer suas atividades espirituais e de firmar sua fé, acabam tendo desequilíbrio em todos os outros aspectos de sua saúde. Isso acontece pelo simples fato de que os seres humanos são seres holísticos, ou seja, formados por múltiplas partes que são interdependentes e que não podem ser reprimidas ou desvinculadas. Tendo em vista essa emblemática, cabe aos cuidadores e profissionais a articulação de ações que visam o alcance dessa dimensão pelos enfermos.
A literatura cita inúmeros benefícios da espiritualidade, que é inerente ao ser, na vida do enfermo e seus familiares. Dentre elas destaca-se a manutenção da integridade de corpo, mente e espírito; Coragem e esperança para enfrentar o momento de desequilíbrio; Favorece a aceitação da realidade, da autoconfiança e aumenta a resiliência do ser; Favorece o crescimento espiritual e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento, dentre outros benefícios (LEITE et al., 20222). Em outras palavras, para que uma manifestação biológica seja solucionada, o ser humano precisa estar bem espiritualmente, uma mente que não acredita na possibilidade de cura retarda significativamente que a mesma ocorra em todos os níveis biológicos possíveis de seu corpo.
Sendo assim, o que fica evidenciado na literatura é que os profissionais de saúde e os familiares dos pacientes precisam estar atentos às suas necessidades espirituais. O ser humano precisa crer em algo e acreditar em um momento de cura para que o mesmo possa ter forças para lutar e aumentar sua capacidade de resiliência. Nesse sentido, é preciso romper com o modelo de saúde predominante hodiernamente e reduzir a negligência que é imposta a necessidade psicoespiritual dos indivíduos. A partir dessa ideia, é necessário entender que o ser é integral e que somente o balanço de seu aspecto físico não é o suficiente para levá-lo ao seu estado de equilíbrio, ou seja, de saúde.
Escrito por: João Victor da Silva Santos – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.
Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.
REFERÊNCIAS:
Leite ACAB, Alvarenga WA, Neris RR, Marques-Mangolin EA, Lucca M, Nascimento LC. Espiritualidade como fator interveniente na gestão de enfermagem. In: Associação Brasileira de Enfermagem; Felli VEA, Peruzzo SA, Alvarenga JPO, organizadores. PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Gestão: Ciclo 11. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2022. p. 77–100. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4). https://doi.org/10.5935/978-65-5848-656-5.C0004
TOLEDO, L.V.; CAÇADOR, B.S.; ANDRADE, J.V.; SOUZA, J. Abordagem das necessidades psicoespirituais pela enfermagem em tempos pandêmicos: revisão integrativa. Pesquisas e procedimentos de enfermagem: assistência, gestão e políticas públicas, Editora Ampla, 585 p, Abril, 2022. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/360271100_Abordagem_das_necessidades_psicoespirituais_pela_enfermagem_em_tempos_pandemicos_revisao_integrativa.
https://www.researchgate.net/publication/360271100_Abordagem_das_necessidades_psicoespirituais_pela_enfermagem_em_tempos_pandemicos_revisao_integrativa.>