Monthly Archives

novembro 2023

Sistematização da Assistência de Enfermagem no Home Care

By Home Care No Comments

O home care ou atendimento domiciliar (AD) é uma modalidade de cuidado em saúde em expansão, alternativo à internação hospitalar. Reconhecido como propício para um cuidado inovador e centrado nas necessidades do usuário, o AD exige atenção profissional. O enfermeiro desempenha um papel fundamental nesse contexto, destacando-se na gestão dos serviços, na cooperação do plano de cuidados no domicílio e na criação de vínculos com usuários e familiares (ANDRADE et al., 2016).

A Resolução COFEN nº 0464/2014 que normatiza a atuação da equipe de enfermagem na AD define a atenção domiciliar como ações no domicílio que garantem a promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento de doenças, reabilitação e cuidados paliativos. A norma inclui modalidades como Atendimento Domiciliar, Internação Domiciliar e Visita Domiciliar. E apresenta as atribuições do Enfermeiro ressaltando que este é responsável por dimensionar a equipe, planejar, organizar, coordenar, supervisionar e avaliar a assistência, além de atuar na capacitação da equipe. Segundo esta resolução a atenção domiciliar deve seguir a Sistematização da Assistência de Enfermagem, realizando sempre o registro de todas as etapas desta em prontuário.

Para entendermos sobre o papel da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no Home Care é preciso primeiro conceituar a SAE  e o Processo de Enfermagem (PE). A SAE é uma metodologia científica utilizada por enfermeiros para planejar, implementar e avaliar a assistência de enfermagem de forma organizada e sistematizada, ou seja, a SAE permite a execução do Processo de Enfermagem (SOUZA et al., 2020). O PE é o modo sistemático que orienta o cuidado e documenta os resultados obtidos através das intervenções (GARCIA, NÓBREGA, 2009). A Resolução COFEN-358/2009 estabelece as cinco etapas inter-relacionadas e recorrentes do Processo de Enfermagem: Coleta de Dados de Enfermagem,Diagnóstico de Enfermagem, Planejamento de Enfermagem Implementação, e a Avaliação de Enfermagem A resolução destaca que o PE demanda um suporte teórico para orientar sua implementação, desde a recolha de dados até à avaliação dos resultados.

A SAE é reconhecida como um modelo de qualidade e um meio de alcançar o reconhecimento profissional além de permitir a gestão dinâmica, flexível e científica do processo de enfermagem, a aplicação do conhecimento teórico e uma maior proximidade entre o paciente e a equipe de enfermagem. A SAE padroniza o atendimento, garantindo uma assistência de qualidade e fornecendo dados confiáveis ​​para avaliação do cliente. A implementação da SAE, valoriza o papel do enfermeiro, trazendo a este mais autonomia, melhora o atendimento ao cliente e eleva a qualidade da assistência de forma geral (COSTA, 2012).

Segundo o manual de orientações para os profissionais de enfermagem de home care do Coren-DF, o uso da Sistematização da Assistência de Enfermagem, seguindo as etapas da Resolução COFEN nº 358/2009, é fundamental para garantir a qualidade e a eficácia dos cuidados prestados em domicílio, ressalta ainda a importância dos registros das informações do atendimento domiciliar no prontuário do paciente.

 

Escrito por: Laís Ferreira Felício – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES;

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

 

REFERÊNCIAS

 

ANDRADE AM et al. Nursing practice in home care: an integrative literature review. Rev Bras Enferm [Internet]. 2017;70(1):199-208. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0214. Acesso em: 27 out. 2023.

 

Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 0464/2014. Normatiza a Atuação da Equipe de Enfermagem na Atenção Domiciliar. Brasília, DF, 03 de novembro de 2014. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-04642014/ . Acesso em: 29 out. 2023.

 

Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 358/2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorra o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras exceções. Brasília, DF, 15 de outubro de 2009. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009/. Acesso em: 28 out. 2023.

 

COSTA, AM (2012). Importância da implementação da assistência de enfermagem (SAE): uma abordagem bibliográfica: 2000-2012. Santa Maria, RS, Brasil. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/1459/Costa_Adonai_Mejia.pdf?sequence=1#:~:text=A%20implementa%C3%A7%C3%A3o%20da%20SAE%20surge,como%20ci%C3%AAncia%20de%20cuidado%2C%20d%C3%A1. Acesso em: 01 nov. 2023.

 

GARCIA, TR; NÓBREGA, MML (2009). Processo de Enfermagem: da teoria à prática assistencial e de pesquisa. Esc Anna Nery Rev Enferm, 13(1), 188-193. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/t5CHQNJfHx9Y84VVR59Zsmc/?lang=pt&format=pdf . Acesso em: 01 out. 2023.

 

SOUZA, GB de, et al. Sistematização da assistência de enfermagem e processo de enfermagem: conhecimento de graduandos / Do cuidado de enfermagem e do processo de enfermagem: conhecimentos de graduação. Revista Brasileira de Revisão de Saúde, 3 (1), 1250–1271. https://doi.org/10.34119/bjhrv3n1-097. Acesso em: 28 out. 2023.

Idoso com fratura

Prevenção de lesão por pressão em ambiente domiciliar e seus fatores de risco

By Home Care, Sem categoria No Comments

 

De acordo com o estabelecido pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel a Lesão por Pressão (LPP) caracteriza-se por ser um dano tecidual localizado na pele e/ou tecidos subjacentes, a qual, geralmente, está situada sobre proeminência óssea, sendo resultado da pressão ou de uma combinação entre esta, e forças de torção, fricção e cisalhamento. Os fatores para o seu desenvolvimento são diversos, podendo ser intrínsecos como a idade do paciente, desnutrição e baixa pressão arterial, e extrínsecos como pressão, tração, cisalhamento e umidade. Nesse viés, a incidência dessa adversidade se configura como um problema de saúde pública levando em consideração os números e o aumento da morbimortalidade mundial, sendo um indicativo negativo da assistência à saúde (MENA et al., 2020).

Em ambiente domiciliar a chance de ocorrência das LPP é maior uma vez que a grande parte dos pacientes domiciliares são idosos e apresentam imobilidade, além de serem assistidos na maioria das vezes por seus familiares e cuidadores que geralmente não possuem conhecimentos sobre a profilaxia e o manejo de tal evento adverso ou possuem medo de realizar alguns procedimentos de prevenção, como é o caso da alternância de decúbito de pacientes em uso de dispositivos médicos. A idade é considerada um fator de risco para seu desenvolvimento devido a fragilidade da pele e à diminuição da mobilidade. Outros fatores como o tabagismo, álcool, perda da função sensorial e cognitiva, elasticidade e turgor da pele diminuídos, baixa perfusão tecidual, temperatura corporal e morbidades relacionadas ao sistema cardiovascular, neurológico, endócrino e muscular podem aumentar os riscos de surgimento das lesões por pressão (MENA et al., 2020).

 

FATORES QUE IMPEDEM A PREVENÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Alguns fatores são considerados barreiras para a prevenção dessas feridas, como a sobrecarga dos cuidadores, baixo nível socioeconômico, baixa escolaridade/conhecimentos e educação em saúde deficiente. Nessa perspectiva, para a eficácia profilática se efetivar é preciso envolver o paciente e o familiar no cuidado, levando em consideração o documento Pressure Injury Prevention Points, publicado pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel que separa a prevenção em cinco dimensões: Avaliação de risco, cuidado com a pele, nutrição, educação e reposicionamento/mobilização. A educação em saúde é de extrema importância para a instrumentalização da família e do paciente orientando-os sobre a utilização de tecnologias importantes na prevenção, sendo a enfermagem uma grande protagonista nesse processo, podendo ofertar informações até mesmo por meio de tecnologias digitais. Ademais, a inspeção diária da pele tem como objetivo identificar precocemente áreas avermelhadas, com alteração na temperatura e da consistência assim como as regiões de proeminências ósseas que não devem estar sob pressão, fricção e cisalhamento que podem provocar a oclusão vascular e dano tecidual em tal topografia. Assim, é importante o controle de umidade, a limpeza adequada e a manutenção da hidratação da pele do paciente (MENA et al., 2020).

Dentre as estratégias de prevenção, destaca-se também o uso de colchões especiais de redistribuição de pressão, o uso de almofadas em regiões de saliência óssea e em locais estratégicos que promovam alívio das forças da gravidade e evite lesões de posicionamento como é o caso da lesão no tendão de dorsiflexão do pé, além da hidratação corporal e o controle nutricional do paciente através de consultas com a equipe de nutricionistas. Vale ressaltar que a alternância de decúbito é fundamental sendo recomendado o tempo máximo de permanência em um mesmo decúbito de 2 horas aliado ao uso de coberturas como a espuma de poliuretano na profilaxia de feridas (MENA et al.,2020). Dado tais afirmações, é necessário evidenciar que a população mundial está passando por uma inversão na pirâmide etária se tornando cada vez mais predominante a população idosa. Nesse viés, urge que ações voltas para esse grupo assumam posição de prioridade e prevalência sendo ofertadas por meio da Atenção Domiciliar (AD) garantindo a continuidade do cuidado por meio de ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação, por meio de visita domiciliar e consulta dos profissionais integrantes da equipe (VANDERLEY et al., 2021).

Destaca-se que o surgimento da AD se relaciona à dificuldade de acesso aos outros sistemas de saúde, sendo esta importante na redução dos riscos de desenvolvimento de LPP por parte de pacientes restritos ao domicílio e principalmente com mobilidade prejudicada no leito. Dessa forma, a utilização de escalas de profilaxia é de extrema importância no desenvolvimento de tal ação, destacando-se a Escala de Braden que avalia os aspectos de percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição, fricção e cisalhamento. Destaca-se que são escassos os estudos que abordam a temática de LPP em pacientes atendidos em domicílio, denotando a necessidade de expansão nas pesquisas acerca deste assunto, a fim de trazer subsídios para propostas de intervenções eficazes no combate ao desenvolvimento das referidas lesões por meio de sugestão de estratégias de prevenção que é essencial para o funcionamento dos atendimentos domiciliares (VANDERLEY et al., 2021).

PREVENÇÃO NO AMBIENTE DOMICILIAR 

É válido evidenciar que os pacientes domiciliares e principalmente os idosos são vítimas da Síndrome da imobilidade caracterizada como um complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares e, por conseguinte, da incapacidade da mudança postural, tendo como uma das principais consequências o surgimento de LPP. Postula-se que as medidas de prevenção, como o uso de coberturas e manutenção da integridade epitelial, são simples e passíveis de serem realizadas pelos cuidadores e familiares em contexto de home care desde que a educação em saúde seja bem empregada (SANTOS et al., 2020).

Conclui-se, portanto, que as LPP se configuram hodiernamente como um problema de saúde pública mundial cada vez maior e proporcional à quantidade de pacientes em contexto domiciliar e ao envelhecimento da população. A partir disso, é preciso que os profissionais de saúde, e principalmente a enfermagem, se atente para a educação em saúde de cuidadores, familiares e pacientes. Dessa forma, medidas pautadas em evidências científicas serão priorizadas e empregas em consultas e ou cuidados de home care proporcionando uma série de benefícios para os pacientes restritos ao domicílio, diminuição das morbimortalidades e melhoria dos indicadores de saúde no mundo.

 

 

 

Escrito por: João Victor da Silva Santos – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.