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janeiro 2024

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES À SAÚDE NA PREVENÇÃO, CONTROLE E TRATAMENTO DAS ARBOVIROSES EPIDÊMICAS NO BRASIL

By Gestão de Saúde No Comments

 As arboviroses são doenças causadas por arbovírus, ou seja, vírus que são transmitidos por artrópodes onde parte de seu ciclo reprodutivo acontece. Levando em consideração o território brasileiro, três arboviroses se tornam epidêmicas e são vistas como um problema de saúde pública levando em conta o crescimento no número de casos hodiernamente, são elas a Dengue, Zika e a Chikungunya transmitidas ao homem principalmente pela picada do mosquito fêmea do Aedes aegypti. Nesse viés, é válido ressaltar que alguns fatores como o aumento populacional, a urbanização não planejada, as variações climáticas e destruição de biomas são alguns dos diversos fatores que explicam o crescimento da expansão geográfica dos vetores nas áreas tropicais e subtropicais e consequentemente da transmissão dessas doenças (SOUZA et al., 2023). De  acordo  com  dados  colhidos  pelo boletim  epidemiológico das  arboviroses  de  2020  a  2022, foram  registrados  cerca  de  2.897.750  de  casos prováveis  de duengue, 501.447 casos prováveis de chikungunya e 48.751 casos prováveis de zika, o que equivale em termos numéricos a 3.447.948 casos prováveis dessas três arboviroses registrados nesses últimos anos pelo Sistema  de  Informação de Agravos de  Notificação, em 2023 (SANTOS et al., 2023).

 

   As manifestações clínicas das arboviroses são similares e variam de uma febre indiferenciada até síndromes neurológicas e hemorrágicas, sendo que os casos mais graves muitas vezes são reconhecidos somente após uma grande infestação dessas enfermidades. Nesse cenário, a ineficácia dos métodos diagnósticos e terapêuticos que se restringe ao tratamento das manifestações clínicas e a deficiência de informações epidemiológicas das arboviroses  se configuram como um fator agravante que muitas das vezes contribuem para o agravamento das manifestações clínicas e para o surgimento de óbitos. As epidemias destas doenças são caracterizadas sobretudo pela variação do perfil epidemiológico da população afetada, da emergência e reemergência dos sorotipos circulantes, do aumento dos casos graves e do número de óbitos muitas vezes em decorrência de diagnósticos tardios ou equivocados e de métodos assistenciais deficiêntes  (SOUZA et al., 2023).

   É válido ressaltar que as arboviroses podem ser transmitidas de forma vertical, transfusional e principalmente vetorial no ciclo humano-vetor-humano, sendo que alguns estudos apontam para a transmissão da febre zika através do contato sexual. Em relação à dengue, a arbovirose urbana de maior impacto epidêmico, as manifestações clínicas vão desde febre, cefaleia, artralgia e mal-estar até hemorragia, choque, óbitos e sintomas atípicos como encefalite, encefalopatia, miocardite e hepatite fulminante. Já na Chikungunya os principais achados são febres>39 graus, erupções cutâneas, poliartralgias, cefaléia, mialgia, fadiga, náuseas, vômitos e óbitos. A Zika se manifesta através de sinais e sintomas brandos e autolimitados como febre baixa, erupções cutâneas, fadiga, cefaléia, conjuntivite ou pode resultar em efeitos mais graves como infecção neonatal, microcefalia, meningite, meningoencefalite e Síndrome de Guillain barré. a. A similaridade de sintomas que há entre as arboviroses, compromete o diagnóstico clínico, por isso, o diagnóstico preciso e confiável, realizado por meio de testes moleculares figura-se de grande relevância para a vigilância epidemiológica  (SOUZA et al., 2023).

    Nesse contexto, é  de grande sutileza elucidar o papel das Práticas Integrativas e Complementares à saúde na prevenção, controle e tratamento das Arboviroses. Essas práticas representam a medicina tradicional e são complementares à medicina convencional, e no brasil, são orientadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), publicada no ano de 2006 e são ofertadas pelo Sistema Único de Saúde. As PICs são práticas humanizadas e que garantem o cuidado holístico do ser humano, se fazendo presentes em diferentes topologias, culturas, classes sociais e níveis de atenção à saúde (SOUZA et al., 2022). Tratam-se de ações que consideram a subjetividade de cada usuário na perspectiva da interdisciplinaridade por meio da aplicação do conhecimento tradicional no cuidado integral tendo em vista o controle e a participação social nas estratégias envolvendo o manejo dos processos de saúde e doença (ALVES, 2019).

    Dentre as PICS regulamentadas e ofertadas através do SUS, destaca-se a fitoterapia como um recurso no controle e tratamento das manifestações clínicas das arboviroses. É válido lembrar que os fitoterápicos são diferentes das plantas medicinais visto que estes requerem técnicas específicas desde seu plantio até sua administração. O emprego das plantas para tratar sintomas como dores, tosse e inflamações e para cuidados com a pele é bastante comum. Seus usos como analgésicos e antitérmicos remetem diretamente aos sintomas das arboviroses, incluindo-se as indicadas como relaxantes musculares. No entanto, efeitos adversos podem surgir diante do uso indevido dessa prática, como é o exemplo do guaco (Mikania glomerata) que pode causar em hemorragia e arritmias cardíacas, agravando potencialmente os efeitos dessas enfermidades. Nesse viés, fica evidente a importância do conhecimento e uso correto da fitoterapia (SOUZA et al., 2022).

   Outrossim, algumas pesquisas afirmam o uso de fitoterápicos como repelentes ingeridos na forma de chás ou usados durante banhos como é o caso da  infusão de cana brejeira (Costus sp.) é utilizada na forma de banho para o alívio de prurido presente na  chikungunya. Para repelir o mosquito Aedes aegypti, seja no ambiente ou com uso tópico, a citronela (Cymbopogon winterianum) e o cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) diluídos em álcool, separadamente ou em combinações variadas e dentre outras. Essas plantas são consideradas ótimas estratégias quando comparadas com repelentes sintéticos visto que além de funcionarem como bio repelentes elas controlam o crescimento vetorial sem trazer danos ao meio ambiente. As arboviroses requerem a descoberta de novos agentes de baixo custo que possam controlar as larvas do mosquito sem produzir qualquer resistência cruzada, nesse sentido cabe ressaltar também o uso de alguns óleos essenciais usados como repelentes do mosquito Aedes aegypti dentre outros  (SOUZA et al., 2022).

  Ademais, Pesquisas recentes mostram que PICS como acupuntura, meditação, tai chi, qigong, yoga e massagem são efetivas para o tratamento de dor lombar, fibromialgia e outras dores de origem osteomuscular, incluindo-se aquelas adquiridas após as arboviroses dengue, zika e chikungunya. No entanto, a auriculoterapia e automassagem são utilizadas com maior frequência no manejo de cefaléias, artralgias e mialgias. Ademais, a auriculoterapia tem raízes na medicina tradicional chinesa e se baseia em estímulos aplicados em pontos específicos do pavilhão auricular traçados em forma de microssistema oferecendo efeitos físicos e psíquicos. Estudos apontam que a utilização dessa prática acarreta na diminuição das dores articulares e no uso de medicamentos convencionais, além de aumentar de forma proeminente a qualidade de vida dos pacientes infectados pelos arbovírus  (SOUZA et al., 2022). 

  A automassagem consiste em um processo onde o próprio paciente toca seu corpo com pressões diferentes com o intuito de melhorar seus processos fisiológicos, promovendo relaxamento muscular, conforto físico e psíquico através do autocuidado holístico. A partir disso, essa prática é utilizada para o alívio das dores e tensões musculares presentes em algumas das arboviroses, principalmente a chikungunya. As PICS são seguras, e algumas delas possuem resultados superiores a determinados analgésicos e anti-inflamatórios para o controle das dores musculares, inclusive aquelas provocadas pelas arboviroses (SOUZA et al., 2022). Entretanto, a oferta das PICs no manejo das arboviroses e outras enfermidades não é uma realidade para todas as pessoas e medidas para sua efetiva distribuição precisam ser levadas em consideração. É evidente a importância que essas práticas possuem frente às questões supracitadas, visto isso, estabelecer uma relação direta das PICs com o tratamento da dengue, da zika e da chikungunya é uma proposta que pode contribuir para a realização de novos estudos, fomento à produção científica e incorporação de novas tecnologias (ALVES, 2019). Conclui-se dessa forma a importância da ampliação de pesquisas em relação às arboviroses epidêmicas no Brasil com o objetivo de ampliar as informações epidemiológicas, o métodos diagnóstico e de tratamento e a utilização e disponibilização das PICS no manejo de tais afecções.

 

Escrito por: João Victor da Silva Santos – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

 

Referências:

Sousa, S.S.d.S.; Cruz, A.C.R.; Oliveira, R.d.S.; Pinheiro, V.C.S. Características clínicas e epidemiológicas das arboviroses epidêmicas no Brasil: Dengue, Chikungunya e Zika. 2023, 23, e13518–e13518, https://doi.org/10.25248/reas.e13518.2023.

 

SANTOS, L. H. O. .; SILVA, R. R. de S. Analysis of the epidemiological profile of arboviruses (dengue, zika and chikungunya) from 2020-2022 in Brazil. Research, Society and Development, [S. l.], v. 12, n. 9, p. e6912943229, 2023. DOI: 10.33448/rsd-v12i9.43229. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/43229. Acesso em: 30 dec. 2023.

 

ALVES, João Armando. Práticas integrativas e complementares em saúde na prevenção, controle e tratamento das arboviroses Dengue, Zika e Chikungunya: uma sistematização qualitativa, Brasil 2019. 2020.

 

DE SOUZA, Silvia Ribeiro; ALVES, João Armando. COMO AS PICS PODEM ATUAR SOBRE AS ARBOVIROSES DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA?. Esta obra é licenciada nos termos Creative Commons sob a licença: Atribuição-Sem Derivações-Sem Derivados-CC BY-NC-ND, sendo todos os direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização desta obra, em parte ou em sua totalidade, desde que citada a fonte., p. 5, 2022.

Qdenga chega ao SUS em 2024: Brasil é o primeiro país a aplicar vacina contra a Dengue gratuitamente.

By Notícias No Comments

Por Laís Felício

Na última quinta-feira (21/12/2023), o Ministério da Saúde do Brasil anunciou um marco para a saúde pública, sendo o Brasil o primeiro país do mundo a incorporar a vacina Qdenga no Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema público e universal. A Qdenga, desenvolvida pela Takeda, é um imunizante contra a dengue que será inicialmente disponibilizado de forma limitada, devido à capacidade restrita de fornecimento de doses pelo fabricante. A decisão de incorporar a vacina ao SUS veio da Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec) que recomendou a inclusão da Qdenga, considerando a relação custo-benefício e a importância do acesso apropriado da população à imunização. Além disso, a Qdenga já havia sido aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março deste ano para ser registrada como um novo imunizante contra a dengue. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia a vacina Qdenga é um imunizante tetravalente, de vírus vivo atenuado, que deve ser administrado em 2 doses com intervalo de 3 meses entre as doses, independentemente do histórico de infecção. A Qdenga é indicada para pessoas de 4 a 60 anos de idade, mas por ser de vírus vivo atenuado a vacina não é recomendada para gestantes, mulheres durante a amamentação, imunodeficientes e pessoas com hipersensibilidade à primeira dose.  A Ministra da Saúde Nísia Trindade relatou: “Seremos pioneiros ao oferecer acesso público a essa vacina como parte do SUS. Até o início do próximo ano, definiremos os grupos prioritários, considerando a limitação da Takeda em relação ao número de doses disponíveis.”

O Programa Nacional de Imunizações (PNI), juntamente com a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), agora irão desenvolver as estratégias de distribuição das doses disponíveis, estabelecendo os grupos prioritários para a vacinação e identificando as áreas com maior prevalência da dengue para a aplicação das doses. A previsão é que a Takeda forneça 5.082 milhões de doses em 2024, distribuídas entre fevereiro e novembro. Segundo o Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS),  a incorporação da Qdenga reafirma o compromisso com a saúde da população. Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde houve uma redução de 44% do preço por dose, que passou de R$ 170,00 para R$ 95,00, sendo que o valor economizado é destinado a saúde pública.

Essa implementação no SUS veio em resposta aos índices expressivos de dengue em 2022 e a presença simultânea dos quatro sorotipos do vírus em 2023. Com isso, houve um aumento do investimento em ações preventivas, que já teve como resultado a inauguração da Sala Nacional de Arboviroses (SNA) para um monitoramento em tempo real dos locais com maior incidência de dengue, chikungunya e Zika, e agora a incorporação da Qdenga ao Sistema Único de Saúde.