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Polifarmácia na População Idosa: impacto na saúde e estratégias de manejo

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Polifarmácia na População Idosa: impacto na saúde e estratégias de manejo

“A polifarmácia é altamente prevalente na pessoa idosa, tendo em vista os diversos fatores de risco apresentados por essa população e traz efeitos adversos decorrentes do uso inadequado ou da interação medicamentosa, muitas vezes presentes nas medicações de consumo regular.”

 

Foto retirada do Freepik

O QUE É POLIFARMÁCIA?

A polifarmácia segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) envolve a utilização simultânea e regular de quatro ou mais medicamentos, seja com ou sem prescrição médica, por parte de um paciente. Outras literaturas sugerem que a polifarmácia é o uso regular de 5 ou mais medicamentos (MORAES et al., 2018).

Apesar destas divergências no conceito da polifarmácia, o foco principal em discussão aqui são os efeitos que o uso concomitante de diversos medicamentos pode causar, principalmente na população idosa que muito comumente é afetada por policomorbidades. Em um estudo realizado para avaliação da polifarmácia em idosos institucionalizados concluiu-se que o número de diagnósticos era diretamente proporcional ao número de medicamentos regulares, ou seja, quanto mais comorbidades o idoso apresentava maior o número de medicamentos que tomava diariamente (LUCCHETTI et al., 2010).

RISCOS E EFEITOS

Além disso, cabe elencar que há uma alta prevalência de polifarmácia em idosos em atendimento domiciliar. Um estudo realizado em Montes Claros-MG avaliou cerca de 130 idosos cadastrados em um programa de Atendimento Domiciliar identificou que 52,7% da amostra havia a presença da polifarmácia, concluindo que é necessário que os profissionais deste setor estejam atentos ao número de fármacos prescritos, pois estes geram impactos no custo, na adesão ao tratamento proposto e desencadeiam aumento das taxas de internação (SANTANA et al., 2017).

Outro estudo aborda o porquê dos idosos estarem em maior risco de sofrer com os  efeitos adversos com o uso regular de polimedicamentos, sendo apontadas alterações farmacocinéticas, como diminuição do funcionamento de órgãos, diminuição da massa muscular e aumento da massa gorda; alterações farmacodinâmicas, como o aumento da sensibilidade aos medicamentos e alteração dos mecanismos homeostáticos; alterações na capacidade funcional, como os déficits visuais, auditivos, artrites, diminuição do tônus muscular e equilíbrio; alterações na capacidade cognitiva, como a dificuldade em recordar novas instruções, problemas de memória ou de compreensão; além das multipatologias, que como mencionado anteriormente aumentam a possibilidade de interações medicamentosas nos idosos (WHEBERTH, 2011).

Um estudo realizado com um grupo de idosos institucionalizados elencou os efeitos dos principais fármacos inadequados em uso pelos pacientes avaliados, apresentando os seguintes efeitos adversos: risco de hipotensão e constipação; bradicardia e exacerbação da depressão; prolongamento do efeito sedativo de alguns medicamentos levam ao aumento do risco de quedas e fraturas; problemas de intervalo QT (parte da função elétrica cardíaca) e risco de provocar torsades de pointes (subtipo de taquicardia ventricular polimórfica); confusão mental; hipoglicemia prolongada e síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético; além de boca seca e problemas urinários (CORRER et al., 2007).

COMO LIDAR COM A POLIFARMÁCIA?

Tendo em vista todos os problemas da polifarmácia supracitados, é importante trabalhar com estratégias de manejo para essas situações. Recomenda-se atualmente a despescrição, que consiste no processo de identificação e descontinuação de medicamentos desnecessários, inefetivos, inseguros ou potencialmente inadequados que deve ser feito pelo profissional em concordância com o paciente. A desprescrição deve levar em consideração fatores como: benefícios x danos dos medicamentos; adesão do paciente; objetivos do tratamento; expectativa de vida; comorbidades; e preferência do paciente (FERREIRA; FERREIRA; NETO, 2021).

Conclui-se, portanto, que a polifarmácia é altamente prevalente na pessoa idosa, tendo em vista os diversos fatores de risco apresentados por essa população e traz efeitos adversos decorrentes do uso inadequado ou da interação medicamentosa, muitas vezes presentes nas medicações de consumo regular.  Ademais, cabe aos profissionais da saúde como médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros, realizar constantemente reavaliações dos pacientes idosos e das prescrições dos mesmos a fim de proceder com o processo de desprecrição nos casos de polifarmácia.

Escrito por: Laís Ferreira Felício – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

REFERÊNCIAS

CORRER, Cassyano Januário et al. Riscos de problemas relacionados com medicamentos em pacientes de uma instituição geriátrica. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, Paraná, v. 43, ed. 1, p. 55-62, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcf/a/NYC66dLmTbVSqF7BnK4dptD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2023.

FERREIRA, Lucas Martins; FERREIRA, Mariana Pires; NETO, Vicente Spinola Dias. Description applied to polypharmacy. Brazilian Journal of Health Review, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 10464-10474, 13 maio. 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/download/29718/23441/76221. Acesso em: 21 ago. 2023.

LUCCHETTI, Giancarlo et al. Fatores associados à polifarmácia em idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, [S.L.], v. 13, n. 1, p. 51-58, abr. 2010. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1809-98232010000100006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/DKympMdXr3Sw6qmNJGHgM5x/. Acesso em: 17 ago. 2023.

MORAES, Edgar Nunes de et al. Avaliação Multidimensional do Idoso. Curitiba: [s. n.], 2018. ISBN 978-85-66800-14-2. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-04/avaliacaomultiddoidoso_2018_atualiz.pdf. Acesso em: 19 ago. 2023.

SANTANA, Edileuza Teixeira et al. Prevalência de Polifarmácia em Pacientes Assistidos por um Programa de Atenção Domiciliar. In FEPEG 2018. Montes Claros, MG. Anais (on-line). Montes Claros: Unimontes, 2017. Disponível em: http://www.fepeg2018.unimontes.br/anais/ver/688085bd-bb20-4889-a32e-a69300b5a931. Acesso em: 23 ago. 2023.

WHEBERTH, Ana Paula Vilas Boas. Polifarmácia em Idosos. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família) – Universidade Federal de Minas Gerais, [S. l.], 2011. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9CGFTZ/1/monografia_ana_paula_vilas_boas_wheberth.pdf. Acesso em: 21 ago. 2023.

Humanização no Cuidado Domiciliar de Saúde: Ciência, perspectivas e desafios

By Gestão de Saúde, Inovação, Notícias No Comments

Muito se discute acerca dos efeitos da humanização do cuidado em saúde, mas, ainda, têm-se poucas análises sistemáticas quanto às suas reais potencialidades, sobretudo científicas. O elevado aprisionamento da grande maioria desses debates no campo teórico inviabiliza descobrimentos concretos, capazes de difundir as perspectivas de atenção humanizada de saúde em todos os serviços embasados no cuidado. Essa perspectiva, que vem ganhando espaço na área da saúde, preza pelo reconhecimento do ser acolhido com um indivíduo único, que demanda cuidados personalizados e que deve ser reconhecido como um ser detentor de anseios, desejos e necessidades singulares, não focando apenas na patologia ou disfunção de saúde.

Apesar disso, é fato que classifica-se como consenso, entre a grande maioria dos profissionais da saúde, que a humanização do cuidado é uma estratégia essencial para aproximar um indivíduo, em um contexto de vulnerabilidade de saúde, do seu processo de recuperação. Apesar disso, por que ainda não vemos esse recurso, capaz de melhorar a assistência de saúde, sendo consolidado nos serviços de saúde, incluindo o domiciliar? Convidamos você, leitor, a refletir conosco.   

A concepção de humanizar o cuidado não é atual. Há vários anos, pensadores e pesquisadores da área da saúde já reconheciam essa linha de pensamento como indispensável. Na história da Enfermagem, por exemplo, Florence Nightgale já previa a necessidade de se oportunizar um ambiente acolhedor ao ser humano que estivesse enfermo. A enfermeira Wanda Horta também reforçou essa premissa em sua teoria das Necessidades Humanas Básicas.

No contexto da atenção domiciliar, a necessidade de humanizar a assistência à saúde não é diferente. Sem dúvidas, dar a oportunidade de um enfermo ser assistido em seu lar, no conforto do lugar diante do qual possui um sentimento de pertencimento e segurança, é uma premissa alinhada à humanização, mas que nem sempre é o suficiente. Além de garantir essa possibilidade de acolhimento residencial, é importante que as pessoas envolvidas no processo saúde-doença tenham em mente a imprescindibilidade de, cada vez mais, dar maior dignidade ao corpo vivo, sejam elas familiares, profissionais da saúde, amigos. 

Os desafios são muitos. Nas redes hospitalares, a grande carga de trabalho sobre os profissionais da saúde, diversas vezes, inviabiliza a implementação de mecanismos de humanização da assistência, bem como o ambiente acelerado em questão. Em destaque, a má remuneração e baixa valorização de inúmeros profissionais da saúde também desestimula eles a debruçar sobre formas de humanizar os atendimentos. A falta de discussão acerca do tema, durante a formação acadêmica, também é um imbróglio que impede atendimentos mais acolhedores nas redes de atenção à saúde, sejam públicas ou privadas. 

Contudo, e como já explorado antes, a escassez de estudos voltados para a reflexão e para a idealização de estratégias para implementação das perspectivas humanistas de saúde na prestação de serviços direcionados à recuperação e manutenção do bem-estar humano coage e desestimula inovações e a própria estruturação de planos e políticas públicas para adoção e propagação dessas compreensões. 

A atenção domiciliar figura-se como um cenário passível de implementação e exploração de instrumentos para humanizar o acolhimento. Sabe-se que, em muitos casos, o acompanhamento de um domiciliado é contínuo, sem muitas intercorrências clínicas, o que pode favorecer o desenvolvimento de um clima estagnado , ou seja, sem muitas interações, principalmente entre o ser acolhido e o ser acolhedor. Diante disso, ressalta-se a importância de se desbravar os recursos de acolhimentos humanizados, para, principalmente, garantir que o processo de recuperação seja mais ágil e efetivo. 

Entre as táticas de humanização está a de aproximar o profissional da saúde do seu paciente-cliente. Assim, a assistência faz-se mais cômoda, pois um passa a conhecer melhor o outro. O profissional da saúde que conhece bem o indivíduo assistido pode oportunizar um tratamento mais personalizado, que esteja condizente com as reais necessidade dele, sem apenas focar em técnicas e protocolos, os quais muitas vezes não é o mesmo para diferentes pessoas. 

Por fim, é indispensável que esses princípios sejam amplamente divulgados, com o intuito de fomentar a busca por métodos capazes de ampliar a qualidade do cuidado. De fato, fechar os olhos para aquilo que traz luz e generosidade pode ser um fator perigoso para o cenário de reabilitação de saúde. Para reverter toda essa situação, é primordial a interação e estreitamento de relações  multiprofissionais dos segmentos profissionais da saúde, dos órgãos governamentais e, principalmente, no campo acadêmico-científico.   

  

Escrito por Cláudio Felipe de Oliveira – Acadêmico de Medicina vinculado à Afya Faculdade de Ciências Médicas de Ipatinga. 

Revisado por Flávia Batista Barbosa de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde vinculada à Universidade Federal de Viçosa. 

SETOR CIENTÍFICO MEDYES 

 

REFERÊNCIAS 

BACKES, DS et al. Contribuições de Florence Nightingale como empreendedora social: da enfermagem moderna à contemporânea. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, 2020.

FARIAS, FBB et al. Cuidado humanizado em UTI: desafios na visão dos profissionais de saúde. Revista de Pesquisa: Cuidado é fundamental online, v. 5, n. 4, p. 635-642, 2013.

MORETO, G; BLASCO, PG. Humanizando a Saúde: Preocupação ou Ocupação?. Archivos en Medicina Familiar. Vol, v. 21, n. 3, p. 85-88, 2019.

RODRIGUES, MC. HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO DE ENFERMAGEM HOME CARE. Revista Eletrônica Ciência & Tecnologia Futura, v. 1, n. 2, 2021.

SANTOS, ECG et al. Processo de Enfermagem de Wanda Horta-Retrato da obra e reflexões. Revista Internacional de Historia y Pensamiento Enfermero, v. 15, p. e12520-e12520, 2019.

SARMENTO  IP,  SARMENTO  RP,  LISBOA  KO,  Bernardes  VRM,  Manso GG, Cardoso HC. A humanização na assistência à saúde:  uma  revisão  histórica  da  literatura.  Rev. Educ. Saúde. 2021;9(2): 78-87

SILVA, ID; SILVEIRA, MFA. A humanização e a formação do profissional em fisioterapia. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. suppl 1, p. 1535-1546, 2011.

VILA, V. da S.C; ROSSI, L.A. O significado cultural do cuidado humanizado em unidade de terapia intensiva: “muito falado e pouco vivido”. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10. n. 2, 2002.