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Idoso com fratura

Prevenção de lesão por pressão em ambiente domiciliar e seus fatores de risco

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De acordo com o estabelecido pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel a Lesão por Pressão (LPP) caracteriza-se por ser um dano tecidual localizado na pele e/ou tecidos subjacentes, a qual, geralmente, está situada sobre proeminência óssea, sendo resultado da pressão ou de uma combinação entre esta, e forças de torção, fricção e cisalhamento. Os fatores para o seu desenvolvimento são diversos, podendo ser intrínsecos como a idade do paciente, desnutrição e baixa pressão arterial, e extrínsecos como pressão, tração, cisalhamento e umidade. Nesse viés, a incidência dessa adversidade se configura como um problema de saúde pública levando em consideração os números e o aumento da morbimortalidade mundial, sendo um indicativo negativo da assistência à saúde (MENA et al., 2020).

Em ambiente domiciliar a chance de ocorrência das LPP é maior uma vez que a grande parte dos pacientes domiciliares são idosos e apresentam imobilidade, além de serem assistidos na maioria das vezes por seus familiares e cuidadores que geralmente não possuem conhecimentos sobre a profilaxia e o manejo de tal evento adverso ou possuem medo de realizar alguns procedimentos de prevenção, como é o caso da alternância de decúbito de pacientes em uso de dispositivos médicos. A idade é considerada um fator de risco para seu desenvolvimento devido a fragilidade da pele e à diminuição da mobilidade. Outros fatores como o tabagismo, álcool, perda da função sensorial e cognitiva, elasticidade e turgor da pele diminuídos, baixa perfusão tecidual, temperatura corporal e morbidades relacionadas ao sistema cardiovascular, neurológico, endócrino e muscular podem aumentar os riscos de surgimento das lesões por pressão (MENA et al., 2020).

 

FATORES QUE IMPEDEM A PREVENÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Alguns fatores são considerados barreiras para a prevenção dessas feridas, como a sobrecarga dos cuidadores, baixo nível socioeconômico, baixa escolaridade/conhecimentos e educação em saúde deficiente. Nessa perspectiva, para a eficácia profilática se efetivar é preciso envolver o paciente e o familiar no cuidado, levando em consideração o documento Pressure Injury Prevention Points, publicado pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel que separa a prevenção em cinco dimensões: Avaliação de risco, cuidado com a pele, nutrição, educação e reposicionamento/mobilização. A educação em saúde é de extrema importância para a instrumentalização da família e do paciente orientando-os sobre a utilização de tecnologias importantes na prevenção, sendo a enfermagem uma grande protagonista nesse processo, podendo ofertar informações até mesmo por meio de tecnologias digitais. Ademais, a inspeção diária da pele tem como objetivo identificar precocemente áreas avermelhadas, com alteração na temperatura e da consistência assim como as regiões de proeminências ósseas que não devem estar sob pressão, fricção e cisalhamento que podem provocar a oclusão vascular e dano tecidual em tal topografia. Assim, é importante o controle de umidade, a limpeza adequada e a manutenção da hidratação da pele do paciente (MENA et al., 2020).

Dentre as estratégias de prevenção, destaca-se também o uso de colchões especiais de redistribuição de pressão, o uso de almofadas em regiões de saliência óssea e em locais estratégicos que promovam alívio das forças da gravidade e evite lesões de posicionamento como é o caso da lesão no tendão de dorsiflexão do pé, além da hidratação corporal e o controle nutricional do paciente através de consultas com a equipe de nutricionistas. Vale ressaltar que a alternância de decúbito é fundamental sendo recomendado o tempo máximo de permanência em um mesmo decúbito de 2 horas aliado ao uso de coberturas como a espuma de poliuretano na profilaxia de feridas (MENA et al.,2020). Dado tais afirmações, é necessário evidenciar que a população mundial está passando por uma inversão na pirâmide etária se tornando cada vez mais predominante a população idosa. Nesse viés, urge que ações voltas para esse grupo assumam posição de prioridade e prevalência sendo ofertadas por meio da Atenção Domiciliar (AD) garantindo a continuidade do cuidado por meio de ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação, por meio de visita domiciliar e consulta dos profissionais integrantes da equipe (VANDERLEY et al., 2021).

Destaca-se que o surgimento da AD se relaciona à dificuldade de acesso aos outros sistemas de saúde, sendo esta importante na redução dos riscos de desenvolvimento de LPP por parte de pacientes restritos ao domicílio e principalmente com mobilidade prejudicada no leito. Dessa forma, a utilização de escalas de profilaxia é de extrema importância no desenvolvimento de tal ação, destacando-se a Escala de Braden que avalia os aspectos de percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição, fricção e cisalhamento. Destaca-se que são escassos os estudos que abordam a temática de LPP em pacientes atendidos em domicílio, denotando a necessidade de expansão nas pesquisas acerca deste assunto, a fim de trazer subsídios para propostas de intervenções eficazes no combate ao desenvolvimento das referidas lesões por meio de sugestão de estratégias de prevenção que é essencial para o funcionamento dos atendimentos domiciliares (VANDERLEY et al., 2021).

PREVENÇÃO NO AMBIENTE DOMICILIAR 

É válido evidenciar que os pacientes domiciliares e principalmente os idosos são vítimas da Síndrome da imobilidade caracterizada como um complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares e, por conseguinte, da incapacidade da mudança postural, tendo como uma das principais consequências o surgimento de LPP. Postula-se que as medidas de prevenção, como o uso de coberturas e manutenção da integridade epitelial, são simples e passíveis de serem realizadas pelos cuidadores e familiares em contexto de home care desde que a educação em saúde seja bem empregada (SANTOS et al., 2020).

Conclui-se, portanto, que as LPP se configuram hodiernamente como um problema de saúde pública mundial cada vez maior e proporcional à quantidade de pacientes em contexto domiciliar e ao envelhecimento da população. A partir disso, é preciso que os profissionais de saúde, e principalmente a enfermagem, se atente para a educação em saúde de cuidadores, familiares e pacientes. Dessa forma, medidas pautadas em evidências científicas serão priorizadas e empregas em consultas e ou cuidados de home care proporcionando uma série de benefícios para os pacientes restritos ao domicílio, diminuição das morbimortalidades e melhoria dos indicadores de saúde no mundo.

 

 

 

Escrito por: João Victor da Silva Santos – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

 

 

Polifarmácia na População Idosa: impacto na saúde e estratégias de manejo

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Polifarmácia na População Idosa: impacto na saúde e estratégias de manejo

“A polifarmácia é altamente prevalente na pessoa idosa, tendo em vista os diversos fatores de risco apresentados por essa população e traz efeitos adversos decorrentes do uso inadequado ou da interação medicamentosa, muitas vezes presentes nas medicações de consumo regular.”

 

Foto retirada do Freepik

O QUE É POLIFARMÁCIA?

A polifarmácia segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) envolve a utilização simultânea e regular de quatro ou mais medicamentos, seja com ou sem prescrição médica, por parte de um paciente. Outras literaturas sugerem que a polifarmácia é o uso regular de 5 ou mais medicamentos (MORAES et al., 2018).

Apesar destas divergências no conceito da polifarmácia, o foco principal em discussão aqui são os efeitos que o uso concomitante de diversos medicamentos pode causar, principalmente na população idosa que muito comumente é afetada por policomorbidades. Em um estudo realizado para avaliação da polifarmácia em idosos institucionalizados concluiu-se que o número de diagnósticos era diretamente proporcional ao número de medicamentos regulares, ou seja, quanto mais comorbidades o idoso apresentava maior o número de medicamentos que tomava diariamente (LUCCHETTI et al., 2010).

RISCOS E EFEITOS

Além disso, cabe elencar que há uma alta prevalência de polifarmácia em idosos em atendimento domiciliar. Um estudo realizado em Montes Claros-MG avaliou cerca de 130 idosos cadastrados em um programa de Atendimento Domiciliar identificou que 52,7% da amostra havia a presença da polifarmácia, concluindo que é necessário que os profissionais deste setor estejam atentos ao número de fármacos prescritos, pois estes geram impactos no custo, na adesão ao tratamento proposto e desencadeiam aumento das taxas de internação (SANTANA et al., 2017).

Outro estudo aborda o porquê dos idosos estarem em maior risco de sofrer com os  efeitos adversos com o uso regular de polimedicamentos, sendo apontadas alterações farmacocinéticas, como diminuição do funcionamento de órgãos, diminuição da massa muscular e aumento da massa gorda; alterações farmacodinâmicas, como o aumento da sensibilidade aos medicamentos e alteração dos mecanismos homeostáticos; alterações na capacidade funcional, como os déficits visuais, auditivos, artrites, diminuição do tônus muscular e equilíbrio; alterações na capacidade cognitiva, como a dificuldade em recordar novas instruções, problemas de memória ou de compreensão; além das multipatologias, que como mencionado anteriormente aumentam a possibilidade de interações medicamentosas nos idosos (WHEBERTH, 2011).

Um estudo realizado com um grupo de idosos institucionalizados elencou os efeitos dos principais fármacos inadequados em uso pelos pacientes avaliados, apresentando os seguintes efeitos adversos: risco de hipotensão e constipação; bradicardia e exacerbação da depressão; prolongamento do efeito sedativo de alguns medicamentos levam ao aumento do risco de quedas e fraturas; problemas de intervalo QT (parte da função elétrica cardíaca) e risco de provocar torsades de pointes (subtipo de taquicardia ventricular polimórfica); confusão mental; hipoglicemia prolongada e síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético; além de boca seca e problemas urinários (CORRER et al., 2007).

COMO LIDAR COM A POLIFARMÁCIA?

Tendo em vista todos os problemas da polifarmácia supracitados, é importante trabalhar com estratégias de manejo para essas situações. Recomenda-se atualmente a despescrição, que consiste no processo de identificação e descontinuação de medicamentos desnecessários, inefetivos, inseguros ou potencialmente inadequados que deve ser feito pelo profissional em concordância com o paciente. A desprescrição deve levar em consideração fatores como: benefícios x danos dos medicamentos; adesão do paciente; objetivos do tratamento; expectativa de vida; comorbidades; e preferência do paciente (FERREIRA; FERREIRA; NETO, 2021).

Conclui-se, portanto, que a polifarmácia é altamente prevalente na pessoa idosa, tendo em vista os diversos fatores de risco apresentados por essa população e traz efeitos adversos decorrentes do uso inadequado ou da interação medicamentosa, muitas vezes presentes nas medicações de consumo regular.  Ademais, cabe aos profissionais da saúde como médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros, realizar constantemente reavaliações dos pacientes idosos e das prescrições dos mesmos a fim de proceder com o processo de desprecrição nos casos de polifarmácia.

Escrito por: Laís Ferreira Felício – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.

Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.

REFERÊNCIAS

CORRER, Cassyano Januário et al. Riscos de problemas relacionados com medicamentos em pacientes de uma instituição geriátrica. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, Paraná, v. 43, ed. 1, p. 55-62, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcf/a/NYC66dLmTbVSqF7BnK4dptD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2023.

FERREIRA, Lucas Martins; FERREIRA, Mariana Pires; NETO, Vicente Spinola Dias. Description applied to polypharmacy. Brazilian Journal of Health Review, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 10464-10474, 13 maio. 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/download/29718/23441/76221. Acesso em: 21 ago. 2023.

LUCCHETTI, Giancarlo et al. Fatores associados à polifarmácia em idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, [S.L.], v. 13, n. 1, p. 51-58, abr. 2010. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1809-98232010000100006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/DKympMdXr3Sw6qmNJGHgM5x/. Acesso em: 17 ago. 2023.

MORAES, Edgar Nunes de et al. Avaliação Multidimensional do Idoso. Curitiba: [s. n.], 2018. ISBN 978-85-66800-14-2. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-04/avaliacaomultiddoidoso_2018_atualiz.pdf. Acesso em: 19 ago. 2023.

SANTANA, Edileuza Teixeira et al. Prevalência de Polifarmácia em Pacientes Assistidos por um Programa de Atenção Domiciliar. In FEPEG 2018. Montes Claros, MG. Anais (on-line). Montes Claros: Unimontes, 2017. Disponível em: http://www.fepeg2018.unimontes.br/anais/ver/688085bd-bb20-4889-a32e-a69300b5a931. Acesso em: 23 ago. 2023.

WHEBERTH, Ana Paula Vilas Boas. Polifarmácia em Idosos. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família) – Universidade Federal de Minas Gerais, [S. l.], 2011. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-9CGFTZ/1/monografia_ana_paula_vilas_boas_wheberth.pdf. Acesso em: 21 ago. 2023.