De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileito de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, a população brasileira com idade superior a 60 anos ultrapassou o número de 30 milhões, estando esse evento alinhado ao processo de transição demográfica e epidemiológica mundial e a consequente inversão da pirâmide etária (Santos et al., 2020). Estudos mostram que em 2030 a população de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil será maior do que o dobro de pessoas com até 14 anos de idade. Esse crescimento traz consigo alguns desafios políticos, socioculturais e econômicos para suprir as necessidades desse grupo populacional (Amorim et al., 2018). Nesse cenário, essas mudanças são acompanhadas de modificações dos modelos de atenção à saúde, que precisam se reorganizar para atender o número cada vez crescente de declínios na capacidade física e mental associados a doenças crônicas não transmissíveis (Santos et al., 2020; Sá et al., 2018).
É imperioso garantir um envelhecimento saudável, através de medidas de promoção da saúde, prevenção de agravos e tratamento, sendo a educação em saúde uma ferramenta eficaz quando o objetivo é promover a autonomia da pessoa idosa frente ao processo saúde doença, a participação e o controle social. A partir disso, o uso das tecnologias digitais se insere como importantes ferramentas de inclusão social da pessoa idosa e de divulgação de informações por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Aliado a isso, as tecnologias auxiliam cuidadores e idosos na realização das atividades básicas e instrumentais de vida diárias (Santos et al., 2020; Sá et al., 2018). As TICs correspondem ao conjunto de tecnologias que permitem o acesso à informação através da telecomunicação (Mendes et al., 2021). Estudos apontam para o crescente uso de recursos digitais pela pessoa idosa, inclusive da maior aquisição de smartphones, o que representa uma excelente estratégia de promoção e cuidados em saúde. Os smartphones chamam a atenção das pessoas idosas por facilitar a comunicação com sua rede comunitária, inclusão social, obtenção de informações e outros recursos estratégicos, mesmo com a presença de uma série de barreiras tecnológicas (Santos et al.,2020; Mendes et al., 2021).
O crescente uso de smartphones alinhado ao processo de envelhecimento populacional representa, hodiernamente, o surgimento de novos mercados e aplicativos voltados para essa parcela da população, se inserindo como uma ferramenta de promoção da saúde. Nesse viés, uma série de aplicativos voltado para essa temática vem sendo criados em todo mundo, tendo como objetivos influenciar estilos de vida, fazer detecção de alterações fisiológicas e promoção do envelhecimento saudável e ativo. Estudos apontam para a relação existente entre o uso da internet e a melhoria na funcionalidade e nos hábitos de vida do idoso, facilitando a realização de suas atividades de vida diária e trazendo benefícios para a saúde (Mendes et al., 2021). Atualmente, uma nova forma de cuidado conhecida como cuidado híbrido que alinha as funções do cuidador digital ao cuidador físico vem sendo ressaltada na literatura. Essa nova forma de se fazer saúde se insere como um excelente recurso para auxiliar o monitoramento a distância da pessoa idosa, ajudando a transpassar as barreiras físicas e de distâncias e promovendo o autocuidado. Ademais, ressalta seus benefícios na diminuição das internações em instituições de longa permanência ou hospitais, mantendo-se a monitorização ininterrupta da conduta terapêutica e da resposta do paciente através do telemonitoramento e telessaúde (Netto, 2018).
Existem vários aplicativos voltados para área da saúde do idoso que auxiliam na mudança dos hábitos de vida, detecção precoce de eventuais problemas de saúde e promoção do envelhecimento ativo e saudável, tendo em vista a preservação das funcionalidades da pessoa idosa e sua autonomia. Ademais, ressalta-se a importância dessas ferramentas para os profissionais de saúde na realização de consultas e esclarecimento de dúvidas. No Brasil, já existem aplicativos com a funcionalidade de detectar síndromes geriátricas e de promover o desenvolvimento cognitivo dos idosos. Já na Alemanha, aplicativos de monitoramento de adesão ao tratamento medicamentoso por parte dos idosos foi inserido na população, o que contribui substancialmente para o alcance do bem-estar desse público (Amorim et al., 2018).
A literatura aponta para existência de diversos aplicativos voltados para a saúde da pessoa idosa, sendo a sua maioria relacionadas com à prática de exercício físico, prevenção ou detecção de quedas, estimulação cognitiva, auxílio na busca por profissionais da saúde, cuidados do idoso, divulgação de informações sobre a saúde, bem-estar e serviços para os idosos através de orientações via GPS e sobre aspectos clínicos, terapêuticos e gerenciais envolvendo a saúde dessa população (Amorim et al., 2018). Outrossim, as pesquisas apontam para a presença de tecnologias que auxiliam no controle de dores musculares através de movimentos guiados, que visam identificar a fragilidades da pessoa idosa por meio do índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional-20 (IVCF-20), que promovem o cálculo do risco da pessoa idosa desenvolver demência e dentre outras que almejam a integralidade do cuidado, o protagonismo e independência do idoso. Assim, as pesquisas apontam para necessidade de propostas que auxiliem na detecção do estágio prodrômico da demência, tendo como objetivo principal a promoção da independência e melhoria em sua qualidade de vida. Outrossim, sugere-se o uso das tecnologias no apoio aos cuidados com a pessoa idosa no domicílio ou em instituições de longa permanência (Mendes et al., 2021; Sá et al., 2018).
Os recursos digitais se alinham à crescente utilização desses recursos pela população idosa e seus familiares, como de smartphones, e à crescente procura por informações digitais na internet, o que leva a urgência em facilitar o acesso desse grupo populacional à informações de qualidade. De acordo com os dados da Fundação Getúlio Vargas, existiam no Brasil mais smartphones ativos que pessoas no ano de 2018 (Amorim et al., 2018; Mendes et al., 2021). Essa forma de comunicação rompe barreiras e cria novas estratégias de troca de informações. Os aplicativos voltados para a população idosa usam recursos como jogos, vídeos, imagens e informações textuais para se comunicarem com o público, sendo importante estar atendo a acessibilidade das informações e da linguagem utilizada, respeitando tamanhos e tipos de fontes, ícones e cores utilizadas e preconizando o uso da orientação verbal. Esses instrumentos contribuem para a melhora da capacidade funcional dos idosos, melhora do equilíbrio, avaliação multidimensional do idoso, determinação das habilidades cognitivas dos mesmos e prevenção de acidentes noturnos (Mendes et al., 2021). Ademais, ressalta-se os benefícios dos aplicativos digitais para os profissionais, permitindo mais flexibilidade entre as instituições de atuação e maior eficiência e eficácia na prestação de serviços (Amorim et al., 2018).
Sendo assim, através da revisão de literatura, fica evidente o impacto da tecnologia digital na melhoria das condições de vida da pessoa idosa. Seu uso deve ser expandido e incentivado tendo em vista o crescente envelhecimento da população brasileira e a urgência de reorganização dos sistemas de saúde para lidar com as novas demandas que esse evento exige. Ademais, urge que se supere o pensamento engessado de idoso passivo e que se comece a promover insumos e estratégias, inclusive digitais, que vá de encontro com o envelhecimento ativo, funcional e autônomo. Estar atento às mudanças na área da saúde e da tecnologia se insere como uma estratégica ferramenta para se prestar um serviço de qualidade e integral para a pessoa idosa.
Escrito por: João Victor da Silva Santos – Discente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e integrante da equipe de pesquisadores da MEDYES.
Revisado por: Flávia Barbosa Batista de Sá Diaz – Doutora em Ciências da Saúde, docente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa e orientadora da equipe de pesquisadores da MEDYES.
REFERÊNCIAS:
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MENDES, G. A.; LINO, L. G.; ALMEIDA, C. M. R. de; FAUSTINO, A. M.; OLIVEIRA, L. M. de A. C.; CRUZ, K. C. T. da. Revisão de aplicativos de smartphones relacionados à saúde para idosos – realidade Brasileira / Review of health-related smartphone applications for the elderly – Brazilian reality. Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 7, n. 5, p. 48776–48789, 2021. DOI: 10.34117/bjdv.v7i5.29832. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/29832. Acesso em: 1 ago. 2024.
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